Mensagem do Criadouro Malvadeza

Em um país onde 100 milhões de habitantes não têm acesso a infra-estrutura de saneamento básico, é de se esperar que apenas uma pequena fração dos interessados em manter pássaros no ambiente doméstico tenha efetuado seu cadastro no Ibama, tornando-se um criador amadorista ou comercial de espécies da nossa fauna nativa, em absoluto acordo com a legislação vigente. Estimamos que, para cada criador legal, existam centenas de clandestinos.

Nenhum criador amadorista ou comercial se interessa por aves capturadas na natureza. Os criadores têm pássaros que, submetidos a um processo de seleção por muitas gerações, são mais bonitos, cantam melhor e são totalmente adaptados ao cativeiro

Quando assistimos no noticiário a apreensão de centenas de pássaros silvestres, transportados clandestinamente, podemos estar certos de que o destino que essas aves teriam é o abastecimento do comércio ilegal. Nenhum criador amadorista ou comercial se interessa por aves capturadas na natureza. Os criadores, amadoristas ou comerciais, possuem pássaros reproduzidos em ambiente doméstico, submetidos a um processo constante de seleção por muitas gerações, que são mais bonitos, cantam melhor e são totalmente adaptados ao cativeiro, sendo muito superiores aos que foram coletados na natureza.

O interesse econômico antagoniza criadores comerciais e traficantes de pássaros. Um pássaro produzido em ambiente doméstico tem um custo muito superior ao do espécime capturado na natureza. Os traficantes podem praticar preços de venda muito inferiores, pois vendem o que não produziram. Isso transforma os criadores comerciais ou mesmos os amadoristas em fiscais em potencial, denunciando aos órgãos competentes qualquer irregularidade comprovada.

 

A sociedade não pode desprezar o importante papel que os criadores desempenham na preservação das espécies

 

A sociedade não pode desprezar o importante papel que os criadores desempenharam e desempenham na preservação das espécies. O Oryzoborus maximiliani (sorophila), conhecido popularmente como "bicudo", praticamente extinto em ambiente natural, está com a sobrevivência da espécie garantida pela reprodução em ambiente doméstico. A população de bicudos registrados no ibama é, hoje, dez vezes superior à que já existiu na natureza.

Se a legislação tivesse facilitado a reprodução em ambiente doméstico, provavelmente não estariam extintas a Anodorhynchus glaucu (ararinha-azul-pequena), a Cyanopsitta spixii, (ararinha-azul) ou o Calyptura cristata (tietê-de-coroa).

Uma consulta pública está em curso para determinar quais espécies de nossa fauna nativa poderão ter sua manutenção e reprodução em ambiente doméstico autorizadas, para comercialização como animal de estimação. A inclusão de uma espécie a contempla com a possibilidade de ter a sua existência assegurada em ambiente doméstico quando não puder mais sobreviver em ambiente natural.

Ao excluir determinada espécie da lista das autorizadas, o Ibama estará chamando para si a responsabilidade pela sua preservação. 

Não é apenas uma questão de atender aos interesses dos criadores. A inclusão de uma espécie é tão mais importante quanto maior for seu risco de extinção. Ao excluir determinada espécie da lista das autorizadas, o Ibama estará chamando para si a responsabilidade pela sua preservação. E a história comprova que essa tarefa é demasiada para a capacidade operacional do órgão.